Chegou a parte final da nossa série “UniQ na Alemanha” e, neste capítulo, contaremos o que vimos na IAA Transportation a respeito de planejamento urbano, novos conceitos de transporte e a relação entre eles. Se você ainda não está por dentro do que rolou nas nossas visitas às cidades de Berlim e Hanôver, confira a primeira parte da nossa expedição por duas das maiores feiras de transporte urbano do Mundo.
No dia 23 de Setembro continuamos explorando a feira, que estava recheada de novidades para o mercado e tendências que deverão ajudar a construir o futuro da mobilidade urbana, por meio de serviço competente, sustentável e acessível.
Após encontrar muita coisa bacana, fomos finalmente assistir ao último debate da IAA Transportation, edição 2022.
Planejamento Urbano do futuro: novos conceitos de transporte em cidades antigas
Carla Westerheide, Editora no portal alemão DVZ e moderadora da discussão, dá início aos trabalhos recepcionando os convidados, sendo eles relevantes nomes do transporte urbano, tanto no mercado alemão quanto internacionalmente.
Abrindo o debate, Martin Gruber, Diretor Geral na Jebsen & Jessen Solutions (Alemanha), destaca que no futuro todo o planejamento urbano para transporte será voltado para evitar ou diminuir a circulação de veículos individuais nas cidades.
“Planejamento urbano é a chave para o sucesso” concorda Johann Jungwirth, Vice Presidente Sênior de Veículos Autônomos da Mobileye, em Israel. Para ele, o planejamento urbano leva em consideração fatores únicos da cidade, valorizando mais o transporte compartilhado do que o pessoal.
Ampliando o panorama da discussão, o Presidente do Instituto de Transportes da Coreia, Jaehak OH, contribui: “O nosso conceito de mobilidade é bastante similar, mas cada cidade tem seus problemas e pontos fortes.”
O especialista conta que o momento é de expansão da mobilidade na Coreia. Para ele, existe uma grande diferença entre mobilidade local e mobilidade para grandes cidades, por isso é preciso ficar atento às mudanças de cenário.
Eletromobilidade, planejamento urbano e direção autônoma
Questionado pela moderadora da discussão, Martin Gruber diz que, em sua opinião, os veículos para eletromobilidade devem ser por vezes grandes e outras menores, tudo depende do trajeto, ou seja, se circulam por ruas espaçosas e longas ou estreitas e pequenas. Ele ainda ressalta que é preciso evitar a poluição e a solução para isso é a eletromobilidade.
“E onde recarregar veículos grandes?” levanta Carla Westerheide.
Prontamente, Gruber revela que atualmente já existe uma nova tecnologia sendo testada, que possibilita veículos grandes como os ônibus elétricos serem recarregados em uma infraestrutura no subsolo das cidades.
Quanto à questão dos veículos autônomos, Johann Jungwirth garante: “Estamos preparados para isso”. Segundo ele, neste momento, o mais importante é garantir que essa tecnologia seja completamente segura.
O expert ainda relata que testes estão sendo feitos para avaliar o comportamento destes veículos em tráfego misto, o que quer dizer uma mistura de diferentes fatores a serem considerados no trânsito pela inteligência artificial do carro, tais como scooters, carros individuais, ônibus, bicicletas e mais.
“Nós precisamos ajudar as pessoas a mudarem seus conceitos a respeito de transporte urbano” expressa o executivo.
Planejamento urbano e mudanças na mobilidade
Com tantos novos conceitos de mobilidade aparecendo no mercado atualmente, a pergunta que fica é “Quem é que lidera e guia a sociedade durante essas mudanças?”.
Nesse sentido, Jaehak OH compartilha com os participantes que o seu instituto, por exemplo, fica mais responsável por fornecer tecnologia, mas que também faz recomendações ao governo quanto à questão das regulamentações.
“O processo de mudança é muito complexo”, começa ele, que acredita que nada é possível sem a tecnologia, porém, o mercado é muito importante, assim como os próprios consumidores: “Está tudo relacionado, esses são os atores nesta estrutura”.
Em termos de quem lidera esses conceitos geograficamente, Johann Jungwirth relembra: “Alguns lugares avançam mais rápido do que outros”. Ele explica que a Noruega está à frente de seu tempo em termos de direção autônoma e afirma que eles possuem um plano ambicioso para avanço nesse assunto.
Por outro lado, segundo o especialista, o interesse pelas bicicletas volta a crescer, especialmente com as “E-bikes”, e Amsterdam vem investindo muito nisso.
Além destes, Jungwirth acredita que Tel Aviv e Barcelona têm grandes chances de liderar essas mudanças também.
“Política, conceito ou tecnologia? O que deve acontecer primeiro?” pergunta Carla Westerheide.
Martin Gruber explica que tudo depende do que é melhor para cada cidade em particular, porém, acredita que a primeira mudança deve acontecer por parte das pessoas, ao se adaptarem aos novos conceitos e, então, os políticos.
“Nós temos tudo, só precisamos combinar os fatores corretamente” expressa ele e continua: “Precisamos pensar no futuro e como vamos nos locomover nas cidades sem poluição.”
Mobilidade urbana: novos conceitos em cidades antigas
Ao ser questionado se cidades mais antigas conseguem suportar os novos conceitos de mobilidade, Johann Jungwirth afirma: “absolutamente”. Ele exemplifica com a cidade de Jerusalém, que embora seja uma cidade extremamente antiga, vem apresentando ótimos resultados nos testes com veículos autônomos.
Jungwirth ainda cita outros locais que também vêm mostrando bom desempenho neste sentido, como Barcelona, Londres e algumas cidades na Alemanha.
Em termos de áreas rurais, a expectativa também é positiva. Martin Gruber, por exemplo, acredita que é possível: “É claro que teremos que avançar passo a passo e que o foco maior é nas cidades, mas, sem dúvidas, podemos seguir para as áreas rurais no futuro.”
Johann Jungwirth também acredita nessa possibilidade, porém, chama a atenção para alguns pontos importantes: “Nas zonas rurais, é claro que as pessoas contarão mais com seus carros pessoais, porém, os provedores de mobilidade devem expandir seus serviços para esses lugares no futuro também.”
Ele ainda pontua que o tempo de espera e a frequência devem ser diferentes das cidades, mas relembra que reduzindo o custo pago aos motoristas é possível investir na tecnologia para os veículos autônomos.
“O transporte urbano é muito importante para alavancar a economia na Coreia”, diz
Jaehak OH, e exemplifica com a questão dos problemas que o país enfrenta em termos de falta de motoristas disponíveis na madrugada.
Para ele, os veículos autônomos resolveriam essa questão, mas é preciso observar a oportunidade de maneira pragmática. O especialista relembra quanto ao tema da segurança neste tipo de tecnologia, que ainda precisa ser desenvolvido com mais testes e regulamentações.
Maiores tendências para o futuro
De acordo com Martin Gruber o futuro da mobilidade está no “Acompanhamento dos veículos autônomos, bicicletas e outros, garantindo que todos estão dirigindo corretamente e nos devidos locais.”
Johann Jungwirth, por sua vez, traz algumas ideias inovadoras como “serviços sobre rodas” usando tecnologia autônoma e self-service: “Uma vez na semana o veículo oferece serviços em áreas rurais.”
Outro conceito levantado pelo executivo é uma espécie de cabine especial nos transportes coletivos, como as que já existem nos trens de viagens longas na Europa. Cada pessoa teria a oportunidade de reservar um assento nessas cabines especiais, onde ela poderia atender a reuniões do trabalho e ter mais privacidade.
A ideia é trazer este tipo de conforto para o transporte compartilhado, fazendo com que as pessoas, cada vez mais, optem por deixar seus carros em casa.
Sem dúvida esse debate inspirou muitas ideias e trouxe esperança e positividade para o futuro do transporte urbano. Entretanto, dentre tantos conceitos discutidos, o que mais se destacou foi, sem dúvidas, a eletrificação das frotas e a direção autônoma.
Já pensou uma cidade sem emissão de gás carbônico em termos de transporte coletivo e os ônibus “dirigindo sozinhos” quando não há um motorista disponível? Parece mesmo coisa de filme futurista, mas essa realidade parece estar cada vez mais próxima.
Inovação da Last Mile
Depois que saímos do auditório de cerimônias, fomos passear mais um pouco pela feira e vimos muitas novidades, uma delas, que vale muito a pena compartilhar, é a nova era da “Last Mile”.
Caso você não saiba do que estamos falando, sem problemas. “Last Mile” é também conhecida como “Última Milha” no Brasil e se trata da última etapa do processo de transporte e entrega de mercadorias para o consumidor.
Para que você entenda melhor, a primeira etapa é chamada de “Primeira Milha” e se trata do transporte da mercadoria do fabricante para os centros de distribuição. Geralmente esse transporte é feito por meio de veículos de médio porte e as distâncias são relativamente curtas.
Na fase de “Milha Média” a entrega do produto é realizada por veículos de grande porte, sendo um ponto antes do endereço do cliente (centro de distribuição, loja, etc).
Na Última Milha, ou Last Mile, é a entrega final do produto, chegando às mãos do cliente. Este tema esteve muito aquecido, tanto na InnoTrans quanto na IAA Transportation, principalmente a chamada “Last Mile Delivery”.
Last Mile Delivery
Neste tipo de prática, custos e contratempos são reduzidos, pois a entrega final sai de uma loja ou estabelecimento menor que fica ainda mais próximo da casa do consumidor.
O Last Mile Delivery vem crescendo muito na Europa e se espalha por todo o Mundo já tem um tempinho, mas, então, você deve estar se perguntando o que há de tão inovador que vimos nas nossas visitas às feiras, certo?
A resposta é simples: novos métodos e veículos de entrega que prometem facilitar ainda mais o recebimento das mercadorias, reduzindo atrasos e de maneira sustentável.
Durante a IAA vimos muitos modelos interessantes para a execução dessa prática. Por exemplo: veículos ultra compactos para curtas distâncias que conseguem carregar materiais de construção; adaptações de pequenos carros com estrutura de bicicletas para entrega de mercadorias diversas; outros para entrega de refeições e o que mais você possa imaginar.
Last Mile no transporte de passageiros
O conceito de Last Mile para transporte sob demanda também foi muito discutido nestes eventos, porém, com um espectro muito além do que já conhecemos e praticamos. Imagine só, um veículo um pouco maior que um carro pessoal e um pouco menor do que um micro-ônibus. Ou seja, um tipo de van, porém mais compacto e confortável, que se locomove de maneira completamente autônoma.
A ideia é que estes veículos menores transportem as pessoas em distâncias menores, ajudando na conexão com os transportes coletivos mais robustos. É um conceito de serviço sob demanda, de locomoção compartilhada, mas que tem o conforto que atrai àqueles que ainda optam por ir de carro para a estação de trem, por exemplo, seja com seu próprio veículo ou com um carro solicitado por aplicativo. Dessa maneira, você incentiva o transporte sustentável, reduzindo a quantidade de carros individuais na cidade.
Muito interessante, né!? Nós também adoramos participar dessa tour pela Alemanha, acompanhando dois dos eventos mais importantes sobre transporte urbano do Mundo! Estes eventos acontecem somente a cada dois anos, mas já têm suas datas marcadas para 2024. A próxima IAA Transportation (Hanôver) acontecerá entre os dias 17 e 22 de Setembro. Já a InnoTrans (Berlim) vai do dia 24 ao dia 27 de Setembro.
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