A IAA Transportation é a maior feira internacional de veículos do Mundo e é claro que jamais ousaríamos deixar de participar! Garantimos a nossa presença para assistir a debates importantíssimos a respeito de tecnologia digital e planejamento urbano no transporte. Veja todos os detalhes!
Depois de dois dias acompanhando as novidades e tendências para o setor da mobilidade urbana na InnoTrans 2022, chegou o momento de continuar a nossa tour pela Alemanha e visitar uma outra feira tão relevante quanto a última, a IAA Transportation 2022. Portanto, seguimos de Berlim para a cidade de Hanôver, ao norte da Alemanha, a região é conhecida por apresentar a maior área de exposições e feiras de todo o globo. Ah, e se você ainda não leu o primeiro e o segundo capítulo da nossa série “UniQ na Alemanha”, confira já!
Chegando no evento, ainda na área externa, logo nos deparamos com um grande ponto de ônibus e, olhando à distância, era possível ver uma série de outros pontos instalados pelo imenso local.
Por meio destes pontos de ônibus, os visitantes tinham a oportunidade de embarcar e conferir, em primeira mão, detalhes dos novos veículos que estavam sendo apresentados ao mercado. Além disso, era ainda uma maneira de se locomover pela feira, que possui uma área externa gigantesca.
Durante este passeio vimos de tudo um pouco, já que a feira abriga inúmeros subsetores do transporte, e, na sequência, focamos no pavilhão dos ônibus. Por ali, vimos muito do que já havíamos observado na InnoTrans, diversos modelos de ônibus trazendo inovação e zero emissão de CO2. Isso significa, modelos movidos a energia 100% elétrica, hidrogênio, energia solar, com direção autônoma e até mesmo ônibus de turismo, daqueles conversíveis que cruzam toda a cidade, também totalmente elétricos.
Tecnologia digital, conectividade e ‘data gold’
A nossa viagem de ônibus pela feira terminou no palco principal da IAA Transportation, onde assistimos à primeira discussão do dia, com o tema “Conectividade digital – Como a indústria de transporte público levanta o ‘data gold’ do século 21?”.
Logo no início do bate-papo Jörg Puzicha, Diretor Administrativo na Mobility inside, estabeleceu o tom da discussão: “Temos que desenvolver algoritmos para que o serviço de transporte possa ser adaptado às necessidades dos usuários”, declara.
Dizemos “estabeleceu o tom” porque é, de fato, isso que viemos ouvindo durante todos os dias de feira que participamos na Alemanha. Fala-se muito sobre um serviço cada vez mais personalizado para o usuário do transporte urbano.
Na sequência, Puzicha ainda ressaltou que os veículos autônomos, ou seja, aqueles que não necessitam de motorista, podem ser uma solução eficiente para os desafios do transporte urbano no futuro.
Coleta de dados, tecnologia e transparência
Elke van Zadel (Presidente do Conselho de Administração, ÜSTRA) afirma que é necessário fornecer aos usuários opções de mobilidade alternativas quando há problemas com o transporte público, mas isso só é possível com uma coleta de dados mais profunda desses usuários e a transparência a respeito deles.
Ou seja, os usuários também podem ter acesso a esses dados: “Quanto mais dados fornecemos, mais ofertas digitais nós trazemos”, afirma ela e continua: “Temos a oportunidade de assegurar conexões através dos dados que temos, mas ainda temos trabalho a fazer”.
Zadel ainda chama a atenção quanto à questão das bicicletas na Alemanha: “Nós precisamos dar aos ciclistas mais espaços para estacionar” reforçando a ideia de que as bikes ainda são uma realidade consistente para o futuro do transporte urbano.
Outro ponto muito relevante levantado por Eike é a questão da acessibilidade. De acordo com ela, através dos dados coletados de usuários é possível ainda calcular o tempo que cada pessoa gasta para se locomover de diferentes formas. Por exemplo, quanto tempo a pessoa A tomaria para chegar a determinado local usando as escadas e quanto tempo a pessoa B (que tem capacidades motoras reduzidas) demoraria para chegar ao mesmo local, seja de elevador, rampa ou outro meio.
Estes detalhes fazem com que a experiência do usuário se torne muito mais personalizada e assertiva.
Eletrificação das frotas e digitalização do ticket
Matthias Rust (Membro do Conselho de Administração, IVU Traffic Technologies), também participante do debate, salientou a importância da questão da eletrificação das frotas com o intuito de reduzir a emissão de CO2 no setor de transportes. Entretanto, relembrou que para que isso seja possível “Precisamos de uma estrutura de recarga muito complexa”.
A recarga dos veículos elétricos em grande escala também foi assunto de diversos outros debates sobre o tema, afinal, uma infraestrutura para recarregar os ônibus de uma cidade, e que aconteça em tempo hábil de suprir a necessidade dos usuários, é um imenso desafio.
Em termos de digitalização do transporte, surge o assunto dos bilhetes de papel. Ao ser questionado pelo moderador Martin Schmitz (Diretor Administrativo de Tecnologia, VDV) se esse tipo de ticket ainda existe na Alemanha, Jörg Puzicha, diz que sim, mas ressalta: “No futuro, o bilhete de papel será apenas um produto de nicho”.
“É um desperdício de papel, eu ficarei feliz quando o uso de papel for erradicado”, diz Matthias Rust, fortalecendo o posicionamento de Puzicha.
Quanto à mudança de hábitos referente à mobilidade urbana, Elke van Zadel relaciona a questão do transporte sob demanda. Ela menciona que no início muitos pensaram que as pessoas mais velhas não iriam usar esse tipo de tecnologia digital, mas não foi bem assim. Isso porque os idosos muitas vezes têm pessoas que os ajudam ou os ensinam a usar essas ferramentas e eles acabam se adaptando.
“No final, nós vamos nos transformando aos poucos”, reflete ela.
Troca de dados e eficiência
A troca de dados entre fornecedores e provedores é também um tema em alta nas discussões que acontecem no setor dos transportes e da tecnologia digital. Para Ilke, esse tipo de troca é muito importante e a evolução da qualidade na mobilidade urbana apenas funcionará se todos trabalharem juntos.
“Todos nós temos o mesmo objetivo, que é melhorar a experiência do usuário, e isso apenas pode ser feito se o fizermos juntos”, reforça.
A ideia, muito discutida em grupos diversos, é a de que o usuário não deseja preencher seus dados múltiplas vezes para cada um dos serviços que pretende acessar em diferentes plataformas. Ou seja, a solução proposta por especialistas é a troca de dados entre os provedores para que seja possível facilitar a experiência do usuário.
Martin Schmitz, na sequência, alerta quanto à importância de estabelecer padrões em relação aos dados compartilhados entre diferentes provedores. Para ele, é imprescindível que estes dados sejam analisados internamente por cada fornecedor.
Telemática e infraestrutura de veículos elétricos
Em termos de tecnologia digital, a telemática tem um papel muito importante no setor dos transportes e este foi o assunto levantado por Matthias Rust neste momento do debate.
“A telemática ajuda a trazer dados dos ônibus e outros veículos, de maneira que possamos entender e salvar esses ônibus” relata o especialista. Segundo ele, através dela é possível compreender como é que os veículos trabalham e como se desgastam.
Para quem não sabe, a telemática é a tecnologia que combina telecomunicação e informática a fim de coletar e analisar dados à distância. A telemática pode agir em uma série de frentes, entretanto, na área dos transportes tem o papel de fazer a leitura dessas informações nos veículos.
Novamente os participantes passaram a discutir sobre a melhor maneira de viabilizar os veículos elétricos no transporte urbano em termos de infraestrutura. Sobre isso, Martin Schmitz adverte: “Nós temos que nos certificar que os veículos não sejam recarregados em horário de pico e, também, que não sejam todos recarregados ao mesmo tempo.
Como solução, Elke van Zadel sugere que a energia da recarga seja armazenada em baterias para que sejam usadas posteriormente. Ela também menciona uma outra alternativa: “Nós temos que usar dados coletados para entender como as pessoas usam energia e então os ônibus podem ser recarregados quando as pessoas não estão usando tanto.”
A executiva ainda ressalta que para chegar a um conceito de sucesso quanto a infraestrutura para os veículos elétricos é preciso considerar diversos outros aspectos da situação e variados tipos de dados.
Futuro do transporte e a tecnologia digital
Chegando ao final do debate, o tema em destaque é o futuro do transporte e Martin Schmitz questiona os participantes sobre qual a missão e objetivos em foco nesse sentido.
“Digitalização, direção autônoma… tudo isso tem um potencial de eficiência enorme” enumera Jörg Puzicha. O palestrante ainda ressalta que, embora acredite que este seja o futuro da mobilidade urbana, é preciso lembrar que tudo isso custa dinheiro e que neste momento há uma grande discussão sobre o financiamento do transporte público na Alemanha.
Puzicha também menciona que o setor precisará do apoio do governo, mas que estes acreditam que eles estão no caminho certo.
Para Elke é imprescindível a cooperação e o trabalho em equipe para a evolução do transporte urbano no futuro. Em concordância com Puzicha, ela também reforça que é preciso apoio do governo para que os serviços de transporte possam ser mais eficientes.
“É importante dizer ao público o quanto nós estamos fazendo um bom trabalho e que temos muitas novas alternativas pela frente”, finaliza Zadel.
Em tom positivo e esperançoso, Mathias Rust declara: “O transporte público tem uma boa reputação na Alemanha e sem o transporte público, não podemos evoluir”.
Por fim, o moderador Martin Schmitz conclui a discussão: “Transporte público é mobilidade sustentável”. E nós, da UniQ, concordamos em cada palavra. Afinal, o que seria de um sem o outro? O futuro do transporte urbano depende absolutamente da sustentabilidade e também da tecnologia e é nisso que acreditamos.
Ainda temos tanto para contar sobre tudo o que vimos na IAA Transportation que decidimos fazer um capítulo extra para você. Portanto, se você gostou de acompanhar os aspectos de tecnologia digital discutidos na feira, confira também a última parte da série “UniQ na Alemanha.